Para curar febres podres
Um doutor se foi chamar,
Que, feitas as cerimônias,
Começou a receitar.
A cada penada sua
O enfermo arrancava um ai.
“Não se assuste (diz o Galeno)
Que inda desta não se vai.”
“Ah, senhor! (torna o coitado,
Como quem seu fado espreita)
Da moléstia não me assusto,
Assusto-me da receita.”
Aqui jaz um homem rico
Nesta rica sepultura:
Escapava da moléstia,
Se não morresse da cura.
Consta que um médico fora
Inventor da guilhotina:
Deu bem rapidez à morte,
Mostrou saber medicina.